O planeta Melancholia irá colidir com a Terra e por fim a toda forma de vida conhecida. Esse é o enredo do último filme do diretor e cineasta dinamarquês Lars Von Trier. Mas não se engane com o fato do filme de Von Trier ter roteiro digno das grandes produções futuristas e de ficção científica norte-americanas. Melancholia é um filme profundo e humano, no sentido mais genuíno do termo, e explora ao limite o tema da frágil e soberba condição humana de ser a ‘’única’’ forma de vida conhecida no Universo até hoje, ou, melhor que isso, não conhecer a sua origem verdadeira.
A história do filme, lançado em 2011 (uma produção maioritariamente dinamarquesa com co-produtores internacionais na Suécia, França, Alemanha e Itália), divide-se em duas partes. A primeira, intitulada Justine, narra a história das duas irmãs; Claire (Charlotte Gainsbourg), mãe de um garoto e mulher do rico John (Kiefer Sutherland), e Justine (Kirsten Dunst), personagem que dá nome a essa parte. Justine está prestes a se casar em um casamento digno da realeza. Porém parece sofrer de uma enorme melancolia e apatia em relação a tudo que a cerca e o que essas coisas representam socialmente. Já Claire organiza a pomposa cerimônia como leva a vida, seguindo normas e preceitos sociais.
A segunda parte da história, intitulada, justamente, Claire, conta a história da colisão do planeta Melancholia com a Terra – colisão essa que é representada em cenas de memorável beleza plástica e acústica no início do filme, uma espécie de prologo já bem característico das obras de arte de Lars Von Trier. Toda a fragilidade do desespero humano de Claire em contraste com a serenidade da melancólica Justine diante da extinção auxilia o diretor a mudar, genialmente, o foco do filme do acontecimento catastrófico para as ações e atitudes das personagens.
Von Trier, sabiamente, utiliza de enredo apocalíptico para captar a essência humana em suas nuances mais profundas e emocionais. A sensação que resta da recepção do filme é um sentimento estranho, inicialmente, de fugacidade da realidade material que criamos e que constitui, hoje, o cerne do cotidiano vital dos seres humanos. Enfim, o filme de Trier, certamente, já tem lugar garantido entre as grandes obras do cinema contemporâneo, colocando o nome do polêmico diretor dinamarquês entre os grandes nomes da sétima arte atualmente.
Melancholia foi lançado no Festival Internacional de Cannes, onde a atriz Kirsten Dunst recebeu o prêmio de Melhor Atriz pelo seu desempenho. O filme recebeu críticas positivas em sua maioria. Durante o lançamento em Cannes, Trier ficou associado a uma polêmica relativa ao seu suposto apoio ao regime Nazi-alemão.